Música

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Tearsdrop

Este texto é escrito da forma mais parcial possível, e relata apenas o que vi.

De facto estiveram uma hora a mandar pedras, mas não foram os milhares que lá se encontravam, foram apenas meia dúzia. Antes da acção policial (por sorte) tinha me deslocado para a ala da assembleia da esquerda, onde duas mulheres foram agredidas, por estarem a falar com os polícias (não faz sentido eu sei).
De repente sem qualquer aviso (que eu tenha dado conta) vejo petardos a voar em direcção dos manifestantes e em segundos a polícia avança. De uma maneira anárquica todos começaram a correr, todos. O que via sempre que olhava para trás era a polícia a continuar a correr atrás de nós e a bater em todos os que apareciam à frente, não importava idade, sexo, nada. Vi inclusive um polícia a mandar uma pedra. A única diferença é que nós não tínhamos escudos, tínhamos cabeças prontas a abrir.
Fomos perseguidos até uma rua do bairro ao lado da assembleia. Algumas pessoas começaram a mandar contentores ao chão e a incendiá-los. Mesmo assim, com mais cuidado que os polícias a escolher as vítimas, sempre sem tentar danificar os carros. Os polícias continuavam a avançar agredindo pessoas que não estavam incluídas sequer na manifestação, que estavam a sair do trabalho.
A polícia continua a avançar. Um dos manifestantes fica para trás, para ajudar uma senhora que estava de carro, a voltar para trás. Repentinamente três polícias de intervenção aparecem sorrateiramente e mandam no ao chão, sem parar de lhe bater, com cacetetes ou aos pontapés.
Voltamos a fugir desta vez em direcção ao rio e chegamos à rua do mc' donalds de santos. Tudo ardia (mas mesmo assim com cuidado com os carros). Nunca pensei ver algo assim. A polícia descia a rua unida. Meia dúzia de pessoas mandavam-lhes pedras. Partiram a montra da caixa geral de depósitos e a do mc' donalds.
A polícia continuava a avançar. Chegamos à avenida que vai desde santos até ao cais do sodré.
Durante esse percurso todo, apenas um caixote do lixo ardia, ninguém mandava pedras. Fomos caminhando pela avenida, durante 15 minutos calmos em que tudo parecia ter acabado.
A certa altura alguém grita, paizanas! Todos começam a fugir. Quando olhava para trás via todas as esquinas com polícias, uns à paizana, outros não, a avançarem sobre tudo o que viam mexer. Uns batiam, outros prendiam, outros espancavam.
Deixei de olhar para trás quando comecei a ouvir as balas de borracha e uma me ia acertando (eu que não mexi uma pedra, literalmente, em toda a manifestação). Não precisava de olhar para trás, apenas correr, porque até à minha frente polícias apareciam do nada. Estávamos praticamente cercados.
A meio do percurso deixei de correr, já não aguentava e fui a andar calmamente como se nada se passasse, com uma rapariga que por acaso já tinha encontrado. Ninguém nos tentou deter, estávamos a agir naturalmente, mas via pessoas no chão a levar com cacetetes em todo o lado. Nunca temi tanto pela vida.
Infelizmente dois amigos meus, que também tinham agido pacificamente, foram detidos.
Vergonha, é o que tenho a dizer.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

I Got a Woman

Se eu pudesse viver numa época à minha escolha (e em parte escolher um "personagem"), escolhia o Far West.
Não é apelativo à partida eu sei, não tanto como as escolhas mais comuns como os anos 20, mas se explicar como deve ser pode ser que me compreendam.
Imaginem a vida de um cowboy como nos típicos filmes de Sergio Leone. Vives uma vida solitária onde escolhes as regras com que jogas, e as respectivas consequências. Viajas constantemente de local em local nas zonas áridas dos quase desertos norte-americanos. Escolhes ir ao bordél e à tasca, escolhes arranjar um pequeno emprego que te permita ter dinheiro para os próximos km, ou caças bandidos em troca das suas recompensas. Ou então és tu o bandido.
Vives de acordo com o teu sentimento de razão, com o que achas bem ou mal, sem desculpas de que a sociedade te contém, sem desculpas de que gostavas de ter mais do que tens, porque no fundo o que tens, é a liberdade.
Arranjas uma mulher, ou um homem, mas no fundo a única constante és tu mesmo. No fim de tudo apenas estarás tu a olhar para o céu estrelado (como nunca o viste) com uma fogueira ao lado, onde um javali que tu mataste está a ser assado.
O que comes, é tua responsabilidade.
E sempre que acordares e tomares o pequeno almoço, vai ser o melhor que já comeste pois vais sempre ter aquela sensação de felicidade, por estar mais um dia vivo.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

We're all just recycled stars!

Passou-se um hiato de 2 anos desde que aqui escrevi.
Muita coisa mudou desde então, transformações a nível social e pessoal, sempre dependentes uma da outra, mesmo quando independentes. E é com esse tema que decidi abrir o blog uma vez mais. Entrando agora num campo diferente, mais racional e científico face ao carácter impulsivo e espontâneo que os textos mais antigos apresentavam.
Apesar de adoptar agora por este estilo de reflecção, é impossível definir qual o que mais se adequa, qual é o melhor. Apesar da racionalidade óbvia destes textos, pode faltar uma certa ingenuidade que habitava os textos anteriores. Depois desta introdução, passo agora a principiar.
(hehe http://www.youtube.com/watch?v=96KN8YMJRBQ)

A verdade é que tudo à nossa volta muda a forma como somos; influencia as nossas decisões, as nossas acções, os nossos traços.
Há uma questão que me inquieta já há uns tempos. Qual é o impacto do que vemos, sentimos? E a cada vez mais chego à conclusão de que o impacto é esmagador.
Não estou a falar apenas dos nossos hábitos e relações dia-a-dia, mas pequenas coisas que não achamos importantes. Ao percorrer um caminho, para o exemplo A-B, será que o que vemos durante o caminho, para onde olhamos, para o chão, o céu, os carros ao nosso lado, muda assim tanto como vamos viver? Se duas pessoas percorrerem o mesmo caminho, será que vão observar coisas tão distintas, que possam mesmo mudar a forma como somos, agimos? Eu acho que sim.

Quando introduzi a temática das mudanças que o exterior nos oferece, não me referia a assuntos, a meu ver superficiais, como modas, e sociedades. Apesar destes terem influência na nossa vida, penso que são apenas pontos na nossa personalidade.

Num futuro não assim tão distante, quando o Homem olhar para o céu não vai ver quaisquer estrelas no céu. Porquê? Porque existe a chamada matéria negra. Esta não é aquela associada normalmente a ideias de matéria destrutiva, mas sim matéria que até há pouco tempo não se sabia que existia e que é invisível. Era o que até recentemente se chamava do "nada".
Para perceberem melhor: uma grande percentagem do peso do corpo humano vem do nada. Este nada é a tal matéria negra, que apesar de invisível é bastante pesada. Por ser tão pesada empurra o resto dos átomos.
Como se pensa (porque nada é certo) o universo está-se a expandir, mas não tão lentamente como se pensava, na verdade cada vez é mais rápido. E tudo devido à nossa amiga matéria negra. Quanto mais as galáxias se afastam do centro do universo, mais matéria negra preenche esse espaço, empurrando as cada vez mais rápido.
E é por isso que no futuro vamos estar tão distantes do resto do universo que nem estrelas vamos ver no céu.
Olhando agora para esta ideia: não vermos nada à nossa volta. Se neste momento a grande maioria da população humana é idiota, desculpem queria dizer religiosa, e acha que ainda estamos sozinhos no universo, o que seria senão víssemos mais nada além do nosso sistema solar.
Será que os antigos gregos se teriam começado a questionar acerca da nossa existência humana? Será que se teriam interrogado acerca da nossa condição no meio deste cosmo? Grandes perguntas, que levaram ao que se chama hoje de filosofia (e infelizmente à religião também).
Será que teríamos tanta ânsia de conhecer o que há para lá do nosso cantinho no grande plano do universo?
Confrontado com estas questões a minha resposta é não. E é por isso que disse que as questões da moda, que (novamente) nos influenciam, são apenas superficiais. Porque se saírmos da nossa conchinha a que chamamos de sociedade, existe muito mais para além disso.
E é ao olhar para tudo isto, este texto, esta ideia, o perceber que de facto seria tudo muito diferente, me questiono ainda mais.
Será que todas as teorias científicas, aceites pela população e comunidade científica, são verdadeiramente verdadeiras?